quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Viva a tradição


É Círio, e fazem dias que Belém cheira diferente. Alias, o seu movimento é diferente. A alegria está no ar. Parentes e amigos chegam de todo canto, pertos e longinquos, para festejar a Padroeira do Pará, da Amazonia.

Viver esse periodo de festas, na Cidade Velha tem outro sentido. Precisa viver aqui, entre igrejas antigas e costumes que mudam e que, pouco a pouco se impoem, para entender essa festa. Todos os nossos sentidos ficam alertas. Não somente o cheiro da maniçoba invade as ruas onde ainda existem casas.. como na Cidade Velha. (Melhor esse cheiro do que o de incenso colocado em algumas portas para cobrir outro cheiro, de algum fumo estranho que ultimamente invade este bairro tombado)
As procissões e romarias se repetem varias vezes ao dia...e a noite. Praticamente todas s casas aqui recebem a visita da santinha. Em alguns casos temos também a presença da poluição sonora. As vezes tem banda de escola de samba ou banda de fuzileiros ou da Policia.  Voces imginam quantos orgãos públicos tem aqui na C.V. ? Prefeitura, Ministérios Públicos, Tribunais; Assembleia Legislativa, etc., etc., etc. (Todos querendo se desculpar com a Santinha e pedir perdão pelo que fazem...ou não?)
Por um motivo ou por outro, todas as procissões tem fogos...uma fogueteria que deixa estressados todos os cachorros, gatos, periquitos e papagaios. Os humanos, nem vamos lembrar...e os cristais, bibelos, etc, que fim levam? .Mas é Cirio, disse uma dirigente de um desses orgãos q deviam cuidar do Patrimonio. "So acontece uma vez por ano". Tem razão, mas as procissões e a relativa poluição sonora e consequente trepidação, acontece durante quinze dias, no minimo, e até varias vezes por dia.
Sexta teremos o Auto do Cirio que, ha mais de vinte anos, anima a véspera da Transladação, com todos os seus prós e contra. Mas é uma vez por ano, somente...com seus ensaios que duram quase um mes. Este ano foi na praça da Bandeira, muito mais comoda e menos perigosa para quem deve usar os onibus e, importante: sem igrejas tombadas. Aqui, mais uma vez, teremos os ambulantes a aumentar o cortejo. (Com certeza todos foram contra a aprovação da lei que declarava patrimônio imateral o som automotivo, mas o som do trio elétrico do Auto não fica atrás, é ensurdecedor).
E sábado vamos ter o Arraial do Pavulagem com cerca de 15.000 seguidores. Quantos serão os ambulantes que tentarão acompanhar esse arrastão? quem conseguirá obrigar o povo a usar os banheiros quimicos? Como defenderão o Patrimônio historico; as igrejas do sec. XVIII? (Impossivel imaginar isso sem pensar na poluição sonora e ambiental que acontecerá...)
Cada ano vemos aumentar os eventos e o numero de pessoas que os frequentam. Francamente, isso é muito bom, se não pensarmos aos danos da poluição ambiental que ninguem leva em consideração enquanto professa a sua fé. Faz bem a todos, principalmente em um momento que a nossa historia escreve paginas tão tristes. Isso tudo ajuda a esquecer essa outra realidade.
Outros bairros devem ver passar as romarias que levam a Santinha para visitar doentes, escolas ou outros orgãos públicos. Devem ter uma ou outra manifestação de rua para louvar a Madona, mas não como aqui na Cidade Velha, que é o centro de tudo. O fato de não morarmos em edificios, nos coloca mais perto ainda de toda essa festança. Convivemos com tudo isso desde a preparação de todos os eventos...e da maniçoba.
O Círio, essa tradição centenária de levar e trazer a imagem da N.Sra. de Nazaré da sua igreja até a Sé e viceversa, e de leva-la para passear pela cidade e entorno, viu os costumes mudarem nesses anos. Viu a sociedade evoluir, assim como viu a festa mudar, e aumentarem as procissões e romarias. O Arraial de Nazaré com seus teatros, não existe mais; os brinquedos no meio da praça, mudaram de lugar; o museu do Círio saiu de Nazaré para a Cidade Velha; a introdução do trio elétrico... O pessoal do miriti é que não tem sossego, pois cada ano os mandam para um lugar diferente e resistem bravamente.
Todas essas festas são benvindas. Todos gostamos e muitos de nós, participamos, mas não devemos negar que, também, acabamos fazendo parte, querendo ou não, de toda essa desordem organizada em nome da tradição....caladinhos.
FELIZ CIRIO


PS: as fotos da iluminação da Doca de Souza Franco são de Celso Abreu.

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